Resumen
No nordeste de Portugal, em várias povoações de Trás-os-Montes, as cerimónias do ciclo de Inverno revestem-se de forte espetacularidade. Envolvem comensalidade coletiva —restrita a alguns segmentos sociais, ou generalizada -, missas, peditórios, bailes, provas de destreza física e manifestações de crítica social. Num tempo longo, associado à agricultura, as festas de Inverno constituíram um momento de introspeção das aldeias, circunscrito no tempo. Eram um contraponto às festas de verão, de grande abertura às aldeias vizinhas, durante as quais as povoações se assumiam como anfitriãs. Num meio em que o rural se tornou pouco agrícola, mas ainda não é outra coisa, drenado por fluxos de gente que emigra e estuda fora, essa festa rural do passado assume hoje novos formatos. O objetivo deste texto é interrogar, num tempo longo, a relação entre “fora” e “dentro”, inserindo as cerimónias do ciclo de Inverno num processo. Procuro responder ao aparente paradoxo entre a diminuição do número de residentes e o crescendo de participação na festa e nas suas derivações, nomeadamente nos cortejos realizados em pontos vários de Portugal e da Europa. O meu argumento central baseia-se nas apropriações da cultura popular em situações diferenciadas e contemporâneas, reenviando para a coexistência e a transição entre tipos de conexão com as celebrações.
Palabras clave: Festas, ciclo de inverno, Trás-os-Montes, emblematização, mercantilização.
Abstract
In several villages of Trás-os-Montes, north-eastern Portugal, the winter cycle ceremonies are of great spectacular character. The festivals involve collective commensality —generalized or restricted to some social segments - masses, public collection, dances, physical dexterity games, and social criticism. Associated with agriculture in a long time, the winter feasts in Varge constituted a moment of introspection of the village, circumscribed in time. The mask feasts were a counterpoint to the summer festivities, of great openness to the neighbouring villages, during which the town became host. In a milieu in which the rural has become less agricultural, drained by flows of people who migrate and study abroad, this rural festival takes on new forms today. The purpose of this text is to interrogate, in a long time, the relation between "outside" and "inside", inserting the ceremonies of the winter cycle in a process. I try to respond to the apparent paradox between the decrease in the number of residents and the growth of participation in the party and its derivations, especially in the parades performed in various places in Portugal and Europe. My central argument is based on the appropriation of popular culture in differentiated and contemporary situations, sending to coexistence and transition between types of connection with the celebrations.
Keywords: Festivals, winter cycle, Trás-os-Montes, emblematization, commodification
Fecha de recepción: octubre 2018
Fecha de aceptación: agosto 2019
Fecha de publicación: diciembre 2019
Received: October 2018
Acceptance Date: August 2019
Release Date: December 2019